A Acádia (ou Ágade, Agade, Agadê, Acade ou ainda Akkad) é o nome dado tanto a uma cidade como à região onde se localizava, na parte superior da baixa Mesopotâmia, situada à margem esquerda do Eufrates, entre Sippar e Kish (no atual Iraque, a cerca de 50kms a sudoeste do centro de Bagdá). Geralmente, contudo, é comum referir-se à cidade como Ágade (ou Agade), e à região como Acádia.
A cidade/região alcançou seu cume de poder entre os séculos XX e XVIII a.C., antes da ascensão da Babilônia, além de representar o núcleo do reino de Nimrod na terra de Sinar.
A língua acádia teve seu nome proveniente da própria Acádia, um reflexo do uso do termo akkadû ("da, ou pertencente à, Acádia") no antigo período babilônico antigo para designar as versões semíticas de textos sumérios. O vocábulo foi cunhado no século XXIII a.C..
HISTÓRIA
Os acádios, grupos de nômades vindos do deserto da Síria, começaram a penetrar nos territórios ao norte das regiões sumérias, terminando por dominar as cidades-estados desta região por volta de 2550 a.C.. Mesmo antes da conquista, porém, já ocorria uma síntese entre as culturas suméria e acádia, que se acentuou com a unificação dos dois povos. Os ocupantes assimilaram a cultura dos vencidos, embora, em muitos aspectos, as duas culturas mantivessem diferenças entre si, como por exemplo - e mais evidentemente - no campo religioso.
A maioria das cidades-templos foi unificada pela primeira vez por volta de 2375 a.C. por Lugal-Zage-Si, soberano da cidade-estado de Uruk. Foi a primeira manifestação de uma idéia imperial de que se tem notícia na história.
Império de Sargão.Depois, quando Sargão I, patési da cidade de Acádia, subiu ao poder, no século XXIII a.C., ele levou esse processo cooptativo adiante, conquistando muitas das regiões circumvizinhas, terminando por criar um império de grandes proporções, cobrindo todo o Oriente Médio e chegando a se extender até o Mar Mediterrâneo e a Anatólia, .
A Sargão I, guerreiro e conquistador, foi-se aplicado tal título, sendo reconhecido como "soberano dos quatro cantos da terra", em alusão às "quatro cidades" bíblicas (Acádia, Babel, Erech e Calné), e em reconhecimento ao sucesso da unificação mesopotâmica. O rei tornou-se mítico a ponto de ser tradicionalmente considerado o primeiro governante do novo império (que combinava a Acádia e a Suméria), deixando o Lugal-Zage-Si de Uruk perdido por muito tempo nas areias do tempo, sendo redescoberto apenas recentemente. É interessante notar, contudo, que, apesar da unificação, as estruturas políticas da Suméria continuaram existindo. Os reis das cidades-estados sumerianas foram mantidos no poder e reconheciam-se como tributários dos conquistadores acadianos.
O império criado por Sargão desmoronou após um século de existência, em conseqüência de revoltas internas e dos ataques dos guti, nômades originários dos montes Zagros, no Alto do Tigre, que investiam contra as regiões urbanizadas, uma vez que a sedentarização das populações do Oriente Médio lhes dificultava a caça e o pastoreio. Por volta de 2150 a.C., os guti conquistaram a civilização sumério-acadiana. Depois disso, a história da Mesopotâmia parecia se repetir. A unidade política dos sumério-acadianos era destruída pelos guti, que, por sua vez, eram vencidos por revoltas internas dos sumério-acadianos.
O domínio intermitente dos guti durou um século, sendo substituído no século seguinte (cerca de 2100 a.C.–1950 a.C.) por uma dinastia proveniente da cidade-estado de Ur. Expulsos os guti, Ur-Nammur reunificou a região sobre o controle dos sumérios. Foi um rei enérgico, que construiu os famosos zigurates e promoveu a compilação das leis do direito sumeriano. Os reis de Ur não somente restabeleceram a soberania suméria, mas também conquistaram a Acádia. Nesse período, chamado de renascença sumeriana, a civilização suméria atingiu seu apogeu. Contudo, esse foi o último ato de manifestação do poder político da Suméria: atormentados pelos ataques de tribos elamitas e amoritas, o império ruiu. Nesta época, os sumérios desapareceram da história, mas a influência de sua cultura nas civilizações subseqüentes da Mesopotâmia teve longo alcance.
Origem do Nome
O nome Acádia é provavelmente uma invenção suméria, aparecendo, por exemplo, na lista de reis sumérios, donde possivelmente deriva a forma semítica assírio-babilônica tardia akkadû ("da, ou pertencente à, Acádia").
É bastante provável que o nome não-semítico "Agade" signifique "coroa (ago) de fogo (de)"em alusão a Ishtar, a "deusa brilhante" ou "refulgente", a divindade tutelar da estrela da manhã e do entardecer e deusa da guerra e do amor (cf. Vênus, Afrodite, Lúcifer), cujo culto era praticado nos absolutos primódios da Acádia. Esse fato também é comprovado por Nabonido (ou Nabonidus), que relata como a adoração a Ishtar terminou sendo suplantada pela da deusa Anunit, uma outra personificação da idéia de Ishtar, cujo santuário ficava em Sippar (ou Sipar). É crucial deixar claro que havia duas cidades de nome Sippar: uma sob a proteção de Shamash, o deus do sol; e uma sob a de Anunit, fato que vigorosamente indica uma provável proximidade entre Sippar e Ágade. Uma outra teoria, surgida em 1911, sugere que Ágade postava-se em frente a Sippar, do lado esquerdo da margem do rio Eufrates, e que era provavelmente a parte antiga da cidade de Sippar.
Na literatura babilônica que surgiria posteriormente, o nome Acádia, bem como Suméria, aparece como parte de títulos de nobreza, como o termo sumério lugal Kengi (ki) Uru (ki) ou o termo acádio šar mat Šumeri u Akkadi (ambos traduzidos como "rei da Suméria e da Acádia"), que terminaram significando simplesmente "rei da Babilônia".
Mencionada uma única vez, no Antigo Testamento (cf. Gênesis 10:10 - O princípio do seu reino foi Babel, Ereque, Acade e Calné, na terra de Sinar, também como Acade, dependendo da tradução), a Acádia é, em hebraico, como, ak-kad, a palavra em si provindo duma raiz infreqüente que provavelmente significa "fortificar" ou "reforçar", ou ainda "fortaleza". Em variantes do grego antigo, como achad, archad, ou ainda, apesar de raro, axad; em grego moderno, como Akkad. No Antigo Testamento, é descrita como uma das cidades principais: Acádia, Babel, Erech (ou Ereque ou Uruk) e Calné (ou Calneh), constituindo o núcleo do reino de Nimrod (ou Nimrud, Nimrude, Ninrode, Nemrod, Nemrude, Nemrode), presente em textos como a lista de reis sumérios. A forma semítica assírio-babilônica posterior, Akkadu, ou Accadu ("de ou pertencente à Acádia"), é provavelmente uma forma derivada de Ágade.
A LÍNGUA ACADIANA
O acadiano é uma das grandes línguas culturais da humanidade. Os primeiros textos em acadiano datam do III milênio a.C., com a chegada dos semitas na Mesopotâmia. A literatura acadiana é uma das mais ricas da Antigüidade.
A língua acadiana pertence ao grupo Oriental das línguas semíticas, fazendo parte da grande família lingüística hamito-semítica. O termo "acadiano", na verdade, se refere a um grupo de dialetos usados pelos assírios e babilônios na Mesopotâmia. O dialeto usado durante o primeiro Império Babilônico (1800 - 1600 a.C.) é conhecido como Antigo Babilônico. É nessa língua que está escrito o famoso Código de Hamurábi. Nestas páginas, no entanto, trataremos principalmente do dialeto Assírio, predominante durante o Novo Império Assírio (883 - 612 a.C.).
Vale lembrar também que, durante muito tempo, o acadiano foi usado como língua internacional por todo o Oriente Médio (incluindo o Egito).
ESCRITA CUNEIFORME
tablete cuneiforme assírio (séc. VIII a.C.)
A escrita cuneiforme recebe esse nome do latim cuneus "cunha", ou seja, "em forma de cunha". Isso porque era feita pressionando-se um estilete contra uma tábua de argila, dando aos caracteres o aspecto de cunha .
Essa escrita foi criada pelos sumérios e aperfeiçoou-se por volta de 3000 a.C. Durante o período assírio, os caracteres foram reformados e ganharam uma aparência mais retilínia e regular.
Os sinais mais freqüentes são aqueles que representam sílabas:
Existem muitos sinais representando palavras inteiras (ideogramas), dos quais mostraremos apenas os mais freqüentes.
Os sinais conhecidos como "determinativos" eram escritos antes ou depois da palavra para esclarecer seu sentido (como na escrita hieroglífica). Exemplos:
GRAMÁTICA ACADIANA
1. Substantivos
O substantivo acadiano possui, como em português, 2 gêneros (masculino / feminino), porém 3 números (singular / plural / dual). O dual é usado para substantivos que aparecem normalmente em par (como "os dois olhos" ou "as duas mãos").
Cada substantivo é também declinado em 3 casos: nominativo (sujeito da oração), acusativo (objeto direto) e genitivo (possessivo ou depois de preposições).
Masculino | |||
sg. | pl. | dual | |
Nom. | -u(m) | -û | -ân |
Acus. | -a(m) | -î | -în |
Gen. | -i(m) | -î | -în |
Feminino | |||
sg. | pl. | dual | |
Nom. | -atu(m) | -âtu(m) | -ân |
Acus. | -ata(m) | -âti(m) | -în |
Gen. | -ati(m) | -âti(m) | -în |
Os casos, no entanto, perdem a regularidade no período Assírio e se tornam confusos, às vezes sendo usados sem qualquer lógica. Assim é que, no dialeto Assírio, o plural era geralmente formado pelo sufixo -ânû ou -ânî, e o dual já caía em desuso.
2. Verbos
Os verbos podem parecer simples no começo, pois possuem apenas dois tempos e são todos regulares. No entanto, cada verbo é formado por uma raiz consonantal (geralmente de três consoantes), que pode ser ajustada para derivar novos verbos.
Se isso parece confuso, damos um exemplo com o verbo kaSâdu "conquistar", cuja raiz é k-S-d. Se duplicarmos a consoante média, teremos kuSSudu (k-SS-d) "conquistar violentamente". Se acrescentarmos um S- à raiz, teremos SukSudu (S-k-S-d) "fazer conquistar". Se acrescentarmos n-, teremos nakSudu (n-k-S-d) "ser conquistado".
Antes de tudo, veremos a conjugação da 1ª raiz, usando o mesmo verbo k-S-d como exemplo.
Verbo k-S-d "conquistar" | ||
Raiz I 1 | ||
Perfeito (pretérito) | ||
sg. | pl. | |
1 | akSud | nikSud |
2 m | takSud | takSudû |
2 f | takSudî | takSudâ |
3 m | ikSud | ikSudû |
3 f | takSud | ikSudâ |
Imperfeito (presente) | ||
sg. | pl. | |
1 | akaSad | nikaSad |
2 m | takaSad | takaSadû |
2 f | takaSadî | takaSadâ |
3 m | ikaSad | ikaSadû |
3 f | takaSad | ikaSadâ |
Infinitivo: kaSâdu | ||
Particípio: kaSidu | ||
Forma estativa* | ||
sg. | pl. | |
1 | kaSdâku | kaSdâni |
2 m | kaSdâta | kaSdâtunu |
2 f | kaSdâti | kaSdâtina |
3 m | kaSid | kaSdû |
3 f | kaSdat | kaSdâ |
* A forma estativa corresponde a um estado ou ao resultado de uma ação: "estando conquistado", "tendo sido conquistado".
3. Preposições e Conjunções
ina "em"
ana "para"
eli "com, para"
u "e"
-ma "e" (sufixado)
inuma "quando"
4. Pronomes pessoais
Pode-se distinguir, nos pronomes, os casos reto e oblíquo, cuja função é a mesma do português.
Pronomes no caso reto (nominativo) | |
anâku "eu" | anîni "nós" |
atta "tu" (m.) | attunu "vós" (m.) |
atti "tu" (f.) | attina "vós" (f.) |
Sû "ele" | Sûnu "eles" |
Sî "ela" | Sîna "elas" |
Pronomes no caso oblíquo (acusativo, genitivo) | |
iâti "me, mim" | niâti "nos" |
kâtu "te, ti" (m.) | kâtunu "vos" (m.) |
kâti "te, ti" (f.) | kâtina "vos" (f.) |
SâSu "lhe" (m.) | SâSunu "lhes" (m.) |
SâSa "lhe" (f.) | SâSina "lhes" (f.) |
Quando o pronome cumpre a função de possessivo, é sufixado ao substantivo:
-î, -ia "meu" | -ni "nosso" |
-ka "teu" (m.) | -kunû "vosso" (m.) |
-ki "teu" (f.) | -kinâ "vosso" (f.) |
-Su "dele" | -Sunu "deles" |
-Sa "dela" | -Sina "delas" |
Por fim, há os pronomes usados como objeto direto após os verbos, os quais também são sufixados:
-(an)ni "me" | -(an)nâSi "nos" |
-(ak)ka "te" (m.) | -(ak)kunûSi "vos" (m.) |
-(ak)ki "te" (f.) | -(ak)kinâSi "vos" (f.) |
-(aS)Su "lhe" (m.) | -(aS)Sunu "lhes" (m.) |
-(aS)Si "lhe" (f.) | -(aS)Sina "lhes" (f.) |
A CIVILIZAÇÃO ACADIANA
Os acadianos originam-se de tribos semitas que habitam o norte da Mesopotâmia a partir de 2400 a.C. Sob o reinado de Sargão, conquistam e unificam as cidades-estados sumérias, inaugurando o I Império Mesopotâmico. Formam os Estados de Isin e Larsa. O império desmorona-se em 2180 a.C., após as invasões dos gutis, povos asiáticos das montanhas da Armênia.
O Estado é centralizado e tem no rei o chefe supremo. De religião politeísta, constroem monumentais palácios ao lado dos templos sumérios. Avançam na arte militar, com tropas de grande mobilidade no deserto e armamentos leves, como o venábulo (lança). Dão forma silábica à escrita cuneiforme e transcrevem obras literárias sumérias.
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