História do Baphomet
A história em torno do Baphomet foi intimamente relacionada com a da Ordem do Templo, ou Ordem dos Templários, pelo Rei Filipe IV de França e com apoio do Papa Clemente V, ambos com o intuito de desmoralizar a Ordem, pois o primeiro era seu grande devedor e o segundo queria revogar o tratado que isentava os Cavaleiros Templários de pagar taxas a Igreja Católica.
A Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão, também conhecida como Ordem do Templo, foi fundada no ano de 1118. O objetivo dos cavaleiros templários era supostamente proteger os peregrinos em seu caminho para a Terra Santa. Eles receberam como área para sua sede o território que corresponde ao Templo de Salomão, em Jerusalém, e daí a origem do nome da Ordem.
Devido à necessidade de enviar dinheiro e materiais regularmente da Europa à Palestina os Cavaleiros Templários gradualmente desenvolveram um eficiente sistema bancário que nunca existira. Assim, levando uma vida austera com uma forte disciplina, defendendo com desinteresse as Terras Santas, recebendo doações de agradecidos benfeitores, , acumularam com o passar dos anos grande riqueza. Tais poderes, militar e financeiro, os tornaram respeitados e confiáveis para a população da época. Financiavam, através de vultosos empréstimos, muitos reis da época. Porém, por volta de 1300 os Templários sofreram diversas derrotas militares, deixando-os em uma posição política vulnerável e assim, suas riquezas se tornaram objeto de ganância e ciúme para muitos.
Em 13 de outubro de 1307, sob as ordens de Felipe, o Belo (homem torpe e grande devedor de dinheiro para a Ordem e favores para o Grão-Mestre Jacques DeMolay, sendo este inclusive padrinho de seu filho) e com o apoio do Papa Clemente V, os cavaleiros foram presos, torturados e condenados à fogueira, acusados de diversas heresias.
Uma mentira Secular
Na época, o Rei francês Philip IV (o Belo) estava envolvido em uma tumultuada disputa política contra o Papa Bonifácio VIII e ameaçava com a possibilidade de embargar seus impostos ao clero. Tal agressividade do Rei contra o sumo pontífice era principalmente devido a corte francesa estar falida. Então, o Papa Bonifácio em 1302 editou a Bula Unam Sanctam, uma declaração máxima do papado, que condenava tal atitude. Os partidários de Philip então aprisionaram Bonifácio que escapou pouco depois, mas vindo a falecer logo em seguida. Em 1305 Philip com uma trama política e pressão militar obteve a eleição de um dos seus próprios partidários, inclusive amigo de infância, como Papa Clemente V e o convenceu a residir na França, onde estaria sob seu controle todo o movimento eclesiástico. (Este era o começo do denominado “Cativeiro Babilônico do Papado”, de 1309 a 1377, durante o qual os Papas viveram em Avignon e sujeitos a lei francesa).
Agora com o Papa firmemente sob seu controle Philip voltou-se para os Cavaleiros Templários e sua fortuna, pois estavam pouco acreditados (devido às perdas militares). Philip então denunciou os Templários à Igreja por heresia e esta aceitou. Assim, em 1307, com o consentimento do Papa, Philip ordenou uma perseguição aos Templários prendendo-os e jogando-os em calabouços, incluindo o Mestre Jacques de Molay acusado-os de sacrilégio e satanismo. Em 1312, o Papa, agora um boneco do Rei, emitiu a ordem que suprimia a ordem militar dos Templários com subseqüente confisco da riqueza por Philip. Mas este, nada recebeu. (Os recursos ingleses dos Templários foram confiscados de forma semelhante pelo Rei Edward II da Inglaterra, sendo a maior parte desta imensa fortuna para Portugal, onde foi criada mais tarde em 1319, a Ordem de Cristo).
Assim, os Templários deixaram de existir daquela data em diante e muitos de seus membros, inclusive Jacques de Molay foram torturados e obrigados a se declararem “réus confessos” para uma miríade de crimes, inclusive uma lista 127 acusações e 9 subitens ! Estas incluíram tais coisas como a “reunião noturna secreta”, sodomia, cuspir na cruz, etc…
Entre as acusações contra os Templários havia uma que haviam produzido algum tipo de “cabeça barbuda”. O tal Baphomet. O que seria isto? Há várias teorias, inclusive seria um relicário contendo a cabeça de João Batista ou a cabeça de Cristo, a Mortalha de Turin, uma imagem de Maomé (o pai da religião islâmica) entre outras. Mas como tal respeitada ordem religiosa viria adorar uma cabeça ou se ocupar de coisa? Provavelmente, não o fizeram, nem a possuíam! O Rei Felipe desejou a riqueza dos Templários e só poderia possuí-la se os Templários fossem julgados hereges, como foram. Enfim, o Mestre Jacques de Molay acabou, após sua prisão, queimado vivo em praça pública com fogo brando junto com seus companheiros. Outros, com mais sorte, que não foram presos, conseguiram fugir para outros países, principalmente para Portugal.
Eliphas Lévi
Mais de 500 anos depois dos Templários, em 1810 na França, nasce Alphonse Louis Constant, filho de um sapateiro.
Bem cedo, ainda criança, ganhou as atenções de um padre da paróquia local que providenciou para que Alphonse fosse enviado para o seminário de Saint Nichols du Chardonnet e mais tarde para Saint Sulpice estudando o catolicismo romano com o objetivo ao sacerdócio.
Mas deixou o caminho do catolicismo para se tornar um ocultista. Alguns dizem que foi expulso da igreja devido suas “visões heréticas”, outros por “pregar doutrinas contra a igreja”. De qualquer forma enquanto vivo seguiu o caminho esotérico e adotou o pseudônimo judeu de Eliphas Lévi (vide neste site) que dizia ser uma versão judaica de seu próprio nome.
O trabalho de sua vida foi escrever volumes enormes sobre Magia que incluíam comentários extensos sobre os Cavaleiros Templários e o Baphomet. De todos seus trabalhos o mais conhecido é o que contém a ilustração que aparece ao topo deste artigo (o desenho é cópia do original e observe que está assinado por Eliphas Lévi) e era usado como uma fachada para o livro “A Doutrina da Alta Magia” publicado em 1855. Levi também afirmava que se a pessoa reorganizasse as letras de Baphomet invertendo-as, adquiriria uma frase latina “TEM OHP AB” que seria a abreviação de “Templi Omnivm Hominum Pacis Abbas”, ou em português, “O Pai do Templo da Paz de Todos os Homens”. Uma referência ao Templo do Rei Salomão, capaz de levar a paz a todos.
É possível observar, de forma similar, que o “pentagrama” não é um símbolo. Lévi usou no desenho, mostrado acima uma estrela bastante comum. Lévi chamava o tal bode de “The Sabbatic Goat” ou “Baphomet of Mendes”.
Ele escreveu :
“We recur once more to that terrible number fifteen, symbolized in the Tarot by a monster throned upon an altar, mitered and horned, having a woman’s breasts and the generative organs of a man — a chimera, a malformed sphinx, a systhesis of deformities. Below this figure we read a frank and simple inscription the Devil. Yes, we confront here that phantom of all terrors, the dragon of all theogonies, the Ahriman of the Persians, the Typhon of the Egyptians, the Python of the Greeks, the old serpent of the Hebrews, the fantastic monster the nightmare, the Croquemitaine, the gargoyle, the great beast of the Middle Ages, and worse than all of these the Baphomet of the Templars, the bearded idol of the alchemist, the obscene deity of Mendes, the goat of the Sabbath.”
Traduzindo :
“Nós recorremos uma vez mais a este terrível número quinze, simbolizado no Tarô por um monstro colocado em cima de um altar, mistificado e chifrudo, tendo os seios de uma mulher e os órgãos geradores de um homem – uma quimera, uma esfinge malformada, uma síntese de deformidades. Abaixo desta figura lemos uma inscrição franca e simples – O Demônio. Sim, nós encontramos aqui o fantasma de todos os terrores, o dragão de todos os teogônicos(1), o Ahriman(2) dos persas, o Typhon(3) dos Egípcios, a Píton dos Gregos, e a velha serpente dos Hebreus, o fantástico monstro, o Croquemitaine(4), a gárgula, a grande besta da Idade Média, e – e pior que todos estes – o Baphomet dos Templários, o ídolo adorado dos alquimistas, o deus obsceno de Mendes, a cabra do Sabbath(5).
É importante notar que Lévi nunca mencionou que Baphomet tinha alguma ligação com a Maçonaria. Eliphas Lévi faleceu em 1875, deixando um grande legado ao ocultismo.
Leo Taxil
Assim, como aconteceu com este antigo e suposto ídolo dos Templários fosse associado com a Maçonaria ?
Por uma brincadeira perpetrada por Leo Taxil (seu verdadeiro nome era Gabriel Antoine Jogand Pagès) em Albert Pike , que era o grande mestre do Rito Escocês Antigo e Aceito da época. Pike (1809-1891) era um Brigadeiro General da Confederação na Guerra Civil Americana que, quase sozinho, foi responsável pela criação da forma moderna do Rito Escocês Antigo e Aceito. Abastado, literato e detentor de uma extensa biblioteca, foi o Líder Supremo da Ordem de 1859 até à data da sua morte em 1891, tendo escrito diversos livros de História, Filosofia e viagens, sendo o mais famoso “Moral e Dogma”. Taxil havia sido iniciado na Maçonaria, mas fora expulso ainda como aprendiz. Talvez por vingança, ou simplesmente por brincadeira, acabou por inventar uma ordem maçônica altamente secreta chamada Palladium (que só existia na imaginação altamente fértil de Taxil) supostamente comandada pelo inocente Albert Pike. Seu objetivo então era revelar à sociedade tal misteriosa e maléfica Ordem. Ficou famoso com isso e ganhou uma audiência com o Papa Leão VIII em 1887. Assim a Igreja Católica patrocinou e financiou a campanha de Taxil, inclusive a edição de seus livros.
O panfleto de lançamento do livro de Taxil (lado direito) pode-se ver Baphomet com algumas modificações e um avental maçônico cobrindo o falo. O livro “Os Mistérios da Franco Maçonaria” (lado esquerdo) descreve um grupo de maçons endiabrados que dançam ao redor do Baphomet puxado por um ex-padre, nada mais nada menos, que o famoso e falecido “Pai do Baphomet”, Eliphas Lévi (falecido em 1875). Leo Taxil ganhou muito dinheiro, inclusive do Vaticano, enganado todo tipo de crédulos.
Finalmente, em 19 de abril de 1897 em um salão de leitura, Taxil iria apresentar uma tal senhorita Vaughan, que na verdade nunca existiu, renunciando a Satã e convertendo-se ao catolicismo. A igreja ansiosamente aguardou tal apresentação. Na data o salão lotou de pessoas do clero católico, maçons e jornalistas. Depois de um palavreado enorme, cheio de volteios, Taxil então finalmente revelou que nada tinha a revelar, porque nunca havia existido tal “Ordem Palladium”. Foi um tumulto imenso. De fato, Gabriel Jogand tinha fabricado a história inteira como um gracejo monumental à custa da igreja. Até hoje os maçons divertem-se com tal episódio. No final, foi chamada a polícia para os ânimos fossem controlados e tudo não acabasse em uma imensa briga e quebra-quebra. Taxil morreu dez anos depois, em 1907, com 53 anos.
Em suma, Baphomet nasceu de uma lenda dos Templários, ganhou forma nas mãos de Eliphas Leví e foi associado à Maçonaria por Leo Taxil.
E daqui, o resto é história. A brincadeira, apesar de ser revelada por seu criador, continua e é aceita como “gospel” por novas gerações de religiosos intolerantes. A Maçonaria é difamada por uma acusação absurda e por aqueles que pensam ser religiosos corretos e acabam por perpetuar uma mentira. O desenho da cabeça de uma cabra grotescamente mudado reúne em um ponto aqueles que, em ódio ou ignorância, difamam a Maçonaria.
Interpretando o Baphomet
Acredita-se que o Baphomet de Eliphas Lévi contenha a natureza dualística da vida e os aspectos masculinos e femininos da criação, portanto “como o andrógino de Khunrath” (como dizia Lévi). A imagem está sentada sobre uma esfera, o mundo; um braço masculino, um feminino, formando um sinal de hermetismo, com os braços e os seios de uma mulher representando a humanidade; o objeto fálico (homem) envolto por duas cobras, uma branca outra negra (a mulher e a tentação), seu colo simboliza a vida eterna da humanidade e o arco (apenas visível a metade) a entrada do útero. Um braço que aponta o “caminho do céu” enquanto o outro aponta para baixo, ou “caminho do inferno”, ou ainda, talvez uma representação do axioma hermético simétrico “assim como para cima ou para baixo”. A ilustração também mostra o braço direito (certo) apontando para uma lua crescente (haverá luz, a próxima fase seria uma lua cheia) branca de Chesed e o outro esquerdo (errado) para uma lua minguante (haverá escuridão, a próxima fase, lua nova) escura para baixo, ou para o negro de Geburah, expressando a perfeita harmonia da clemência com a justiça. Ou ainda, uma representação simétrica inversa das fases da Lua que também poderia representar a dualidade do bem e do mal, o certo (para cima) e o errado (para baixo). O archote entre os chifres significa a chama da inteligência, também a mágica luz do equilíbrio universal, a alma acima da matéria ou acima de tudo ou ainda, a luz espiritual acima da justiça. No braço direito está escrito SOLVE (resolva, do verbo “resolver”, do latim “solvere”), mas aqui Levi usa um duplo sentido, pois “solve” também poderá ser “solução”, no sentido de mistura alquímica ou “dissolver”. No esquerdo COAGULA ou “coagular” (solidificar), isto é, impossível de resolver ou ainda “de voltar atrás”, ou o arrependimento eterno diante do erro cometido. Estas palavras, SOLVE e COAGULA, são referências alquímicas antônimas encontradas em estudos de Lévi, muito comuns e sempre escritas em seus livros.
É Importante notar que o símbolo fálico de Baphomet envolto por duas serpentes foi copiado por Levi de um símbolo antiguíssimo, nada mais nada menos de um caduceu. Levi usou o símbolo do caduceu antigo o qual não possuía asas e apenas colocando uma cobra negra, criando assim uma dualidade reversa e combinando com a dualidade reversa de Baphomet.
Na mitologia grega o caduceu é o símbolo de Hermes, Deus do Comércio, mas outra tarefa a ele atribuída era de transportar os mortos à sua morada subterrânea. Na Antigüidade, inclusive a grega, se atribuía poder mágico ao caduceu. Há lendas se referindo à transformação em ouro de tudo o que era tocado pelo caduceu de Mercúrio sendo assim, mais tarde, o símbolo da alquimia, (lembre-se que Levi escrevia muito sobre a alquimia) e seu poder de atrair as almas para os mortos, isto é, o poder de ressuscitação. Mesmo as trevas podiam ser convertidas em luz por virtude desse símbolo da força suprema cedida a seu mensageiro pelo pai dos deuses. Os romanos utilizaram o caduceu como símbolo do equilíbrio moral e da boa conduta.
A antigüidade do símbolo é muito remota e encontra-se na Índia gravado nas lápides de pedra denominadas nagakals, uma espécie de ex-votos que aparecem na entrada dos templos. Sua origem certamente é da Mesopotâmia onde pode ser visto na taça de sacrifícios de pedra sabão do rei Gudea de Lagash (2.600 a.C.). Apesar da longínqua data acredita-se que o símbolo é provavelmente anterior, considerando aos mesopotâmicos as duas serpentes entrelaçadas como símbolo do deus que cura as enfermidades, sentido que passou à Grécia e ao emblema de nossos dias.
No caduceu original (ao lado) este caráter binário equilibrado (simétrico) é duplo: há serpentes e asas, que ratificam esse estado supremo de força e autodomínio (e, conseqüentemente, de saúde) no plano inferior (serpentes, instintos) e no superior (asas, espírito).O caduceu é na atualidade a insígnia do bispo católico ucraniano e da Contabilidade. Foi muito usado como um símbolo representante da farmácia e ciência médica, porém neste caso, atualmente, usa-se para representar a medicina o símbolo chamado de “bastão de Asclépio”, muito parecido com o caduceu, mas apenas com uma serpente.
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