quarta-feira, 26 de maio de 2010

A MÚSICA GÓTICA E O GOTHIC METAL.

Uma das maiores dificuldades das pessoas é entender que Gothic Metal não é música gótica. Acham que qualquer coisa mais sombria é “gótica” ou mesmo “gothic”. Existem motivos comerciais que induzem a esse erro grosseiro de interpretação. Na maioria das vezes não é culpa da pessoa não saber, afinal, a mídia especializada nunca se deu ao trabalho de explicar direito a essas pessoas o que é o que, de fato.

A seguir, o texto mostrará a vocês quais são as diferenças fundamentais do que se tem por música gótica e o que, de fato, faz com que não tenha nada a ver com o metal.



ORIGENS

É bem discrepante a origem de ambos os estilos, estando em lados totalmente opostos. De um lado temos o Gothic Rock, primeiro estilo gótico, que nasceu do Post-Punk. Esse estilo, historicamente, tem ligação com os vários experimentalismos com a música eletrônica e com um ideal de passividade, contrário ao próprio punk. Tem também marcas no Punk Rock de maneira bem direta, como se nota nos conjuntos de Deathrock também muita coisa do Glam Rock, que ajudou na sua concepção estético-visual.

O gothic metal, como o próprio nome sugere, tem base no metal, que por sua vez tem base no Hardrock. Sua concepção sonora tem como base o Doom Metal, estilo que, por mais lento e melancólico que seja, tem suas bases na guitarra. Sua sonoridade sempre será calcada no peso e na melancolia, com alguns climas voltados ao atmosférico.



SONORIDADE

A sonoridade gótica (daqui por diante chamada simplesmente de darkwave) aborda uma série de subestilos, dentro eles o deathrock, gothic rock, ethereal, futurepop e o dark-electro. Agrega para si os estilos do industrial, ebm, synthpop, coldwave, new wave, electro-rock. E esses estilo se influenciam um nos outros, fazendo com que uma mesma banda possa ter fases bem distintas ou mesmo ter uma sonoridade bem diversa. Seus estilos se tornam um tanto quanto difíceis, uma vez que sempre tem uma tendência nova dentro da cena, como o dark cabaret. Os vocais masculinos tendem a ser mais graves ou mais agudos, no estilo punk, como acontece com o Bella Morte. Os femininos são vocais mais diretos, sem ir para o lírico, exceto no ethereal, onde sempre são sublimado e atmosféricos. Instrumental mais simples, mais leve, com um clima mais dançante.

A sonoridade do gothic metal carece disso. Ela possui sempre uma sonoridade sombria, triste e melancólica, herdadas do doom metal. Um som forte, pesado, com fortes traços de agressividade. Por vezes pega elementos de gothic rock, ebm, industrial e ethereal, mas sem que isso desconfigure seu som. Os vocais tendem a ser graves, guturais, alguns levemente agudos, mas sem que, com isso, fujam do exagero. Os raros vocais femininos são, em geral, sopranos ou alguma coisa voltada ao erudito. Carece de experimentalismos, tendo uma sonoridade um tanto quanto padronizada e também não possui subestilos agregados.



ESTÉTICA VISUAL

Como foi discutido em outro artigo, a estética gótica e a metal possui matizes e particularidades bem distintas. Aqui vai apenas um complemento a esse texto.

O visual gótico sofre influência do visual glam. Também sofre notória influência da moda vitoriana, da moda clássica inglesa das décadas de 20 e 30 e alguma coisa da moda de cabaré, imortalizada no clube Batcave. Há também notória influencia do cinema na moda e no estilo gótico, com roupas e figurinos inspirados em filmes de terror. A moda feminina tende a um certo sensualismo sombrio.

O visual metal é apenas um visual de preto, com raras referências a outras coisas.



CENA

A cena gótica existe desde a década de 80. Ela é formada por pessoas que possuem formas de comportamento, vestimenta, ideologias e até costumes muito parecidos. Adotam para si mesmos uma cena underground, independente, agregando sonoridades diversas, desde as que são tipicamente darkwave como as que influenciam este estilo.

O gothic metal não possui cena própria. Como qualquer subestilo do heavy metal, ainda faz parte dele, apenas se caracterizando como um secto, que pode ou não agregar outros estilo de metal. Faz parte apenas de uma cena metal, não agregando estilos como o darkwave, o synthpop, futurepop, coldwave etc. Carece ao gothic metal uma identidade autônoma, que caracterizaria o mesmo como um estilo autônomo.



TEMÁTICA

Do contrario do que muitos pensam, nem sempre o darkwave é sombrio e triste. Temos músicas mais alegres e descontraídas, vistas em bandas como Bella Morte, All Dead Gone e Scary Bitches. Outras vezes entramos em coisas mais dançantes como Lights of Euphoria e o Cruxshadows.

Dentro do gothic metal o que temos são sempre músicas extremamente carregadas de tristeza, de dor e sofrimento. Climas carregados, introspectivos, entrando sempre com o contraste entre extremos. Não possui aquele clima dançante e descontraído que existe no darkwave.



E POR QUE?

Por que nunca mudaram isso? Por que as pessoas ainda acham que é tudo a mesma coisa? Bem, não há uma resposta clara, mas sim algumas coisas possíveis.

A primeira diz respeito ao comercialismo. O gótico sempre foi “sedutor”, sua beleza macabra, com seu clima sombrio e melancólico atraí pessoas. Contudo, a falta de informações a respeito do que é, de fato, o estilo gótico, se tornou um grande caça-níqueis. Bandas viram nisso um chamariz de vendas, atrelado, evidentemente, a gravadoras. Bandas como Epica e Within Temptation vendem seu som como pertencente a alguma coisa gótica e caem no gosto popular por serem de fácil assimilação. É fácil consumir uma idéia que não vá muito contra o seu dia a dia e isso que o gothic metal representa. Nada de figurinos complexos, nada de maquiagem. Apenas roupas pretas e um vestido comum.

O darkwave nunca foi popular. Do contrário do metal, que tem forte apelo comercial, o estilo gótico quase sempre se sustenta pelo meio underground. Nada de grandes gravadoras, nada de grandes selos, nada com distribuição mundial. A cena gótica vive um momento difícil até mesmo por conta desse tipo de marketing agressivo que o metal tem.

Por isso é importante colocar as coisas no lugar. Fazer com que a cena possa crescer e, quem sabe, tenhamos alguma coisa de concreta do estilo darkwave por aqui, sem precisar brigar por conta de espaço contra uma mídia mal-informada.



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