A Índia é um dos locais que, juntamente com o Egito
e a China, tem mais elementos para esclarecer o fenômeno dos Vampiros. Asuras, Rakshasas e mais uma infinidade de seres vampíricos fazem parte da mitologia indiana, sem falar em várias divindades que têm facetas vampíricas evidentes, como a deusa Kali e seu marido Shiva. Os Rakshasas habitavam locais de cremação, onde inúmeros cadáveres eram cremados. Estavam sempre prontos a atrapalhar a consecução espiritual dos ascetas. Datam da era védica, seu líder é Ravana, de dentes pontiagudos e olhos sinistros, inimigo de Rama. Eles portam unhas longas e venenosas, sua aparência é feroz, sua cor é o azul escuro, mas podem ser verdes ou amarelos.
Os Rakshasas são senhores de grandes tesouros, guardiões de templos e palácios. Vagavam à noite em busca de sangue de crianças, em especial dos recém-nascidos. Também gestantes faziam parte de suas principais vítimas. Eles se faziam acompanhar muitas vezes por sacerdotisas, que participavam de seus sangrentos banquetes, as Hatu Dhana. Além dos Rakshasas, Asuras e as Hatu Dhana, havia os Pisashas; eles se alimentavam dos restos da cremação e transmitiam inúmeras calamidades. Outra classe de seres Vampiros era a dos Bhutas, o espectro dos mortos. Os candidatos principais a se tornarem Bhutas eram os que padeciam por morte antinatural, suicídio ou execução; eram loucos, portadores de alguma moléstia ou deformados. Transformavam-se, após a morte, em mortos-vivos. Em certas localidades da Índia, aqueles que morrem de maneira semelhante às descritas são sepultados ao invés de cremados. De forma alguma isso se restringe à Índia, já que em praticamente todo o mundo pessoas que sofreram morte violenta ou tiveram má índole são fortes candidatos a Vampiros.
Os Bhuta se alimentam de fezes e intestinos encontrados em corpos decompostos. E também promovem doenças nos seres humanos, uma forma de gerar o seu alimento. Eles também vivem perto do local de cremação, transformam-se em corujas e morcegos, mas igualmente aos Rakshasas atacam recém-nascidos. Podem obsediar uma pessoa, e a pessoa assim obsediada viria a atacar outras, devorando-as.
Sir Richard Burton, um dos mais importantes aventureiros do século XIX, conta-nos à história do livro Vetala Pachisi, os vinte e cinco contos de um Baital. O narrador destas vinte e cinco histórias é um Baital, um Vampiro, um ser que se apossava do corpo de um morto para executar suas atividades vampíricas.
Esse livro trata da história de um gigantesco morcego negro, vampiro ou espírito maligno que habitava e animava cadáveres. É uma lenda antiga, cujo estilo de narrativa influenciou As Mil e Uma Noites, O Asno de Ouro, de Apuleio, e o Decameron e o Pentameron, de Giovanni Boccaccio. Essa narrativa tem como personagem o Rei Vikram, que teve seu reinado por volta do século I.
“O ser pendia de cabeça para baixo, seus olhos, que estavam arregalados, eram de um castanho esverdeado e nunca piscavam. Seus cabelos também eram castanhos, e castanho era seu rosto. Três matizes diferentes combinadas lembravam um coco seco. Tinha o corpo magro e cheio de nervuras, como um esqueleto ou um bambu. Estava pendurado em um galho como um morcego, pela ponta dos dedos, e seus músculos contraídos ressaltavam como cordas de fibra”.
“Não parecia ter uma gota de sangue sequer, ou esse estranho líquido devia ter escoado para a cabeça; quando o Raja (Vikram) o tocou, a pele era fria como o gelo e viscosa como a de uma serpente. O único sinal de vida era o agitar furioso de uma pequena cauda, como a de um bode. O bravo Rei deduziu — um Baital, um Vampiro, um Vetala Pancha Vishnati!” (Baital é a forma moderna de Vetala).
Encurtando a narrativa, Vikram faz inúmeras tentativas de capturar o vampiro, mas este é esperto, e contando inúmeras histórias consegue sempre voltar a sua árvore. Por fim, o Raja o leva até um Yogue que estava esperando por eles perto de um crematório. A área era cheia de hienas, abutres e assombrada por espectros. O vampiro havia se apossado do corpo de um jovem, e, ao se aproximar do Yogue, mas não tão perto para que este pudesse ouvi-lo, avisou o Rei Vikram de que o Yogue na verdade era um gigante monstruoso disfarçado. Após dizer isso, o vampiro abandonou o corpo do jovem, que voltou a ser um corpo normal.
O Rei ficou em dúvida a respeito do que o vampiro havia falado. Ele tomou parte nas cerimônias do Yogue a contragosto, sempre esperando o pior, e graças a isso foi salvo. De fato, o Vampiro falara a verdade. O Vetala é um demônio vampiro com características de semideus. Ocasionalmente, o Vetala pode promover a possessão de um cadáver, animando-o para suas práticas hematófagas.
Outros dois tipos de vampiros importantes eram o Gayal e Churel. O Churel é um Vampiro feminino, uma mulher que teve morte no parto ou menstruada. Ela aparece como uma linda donzela, extremamente sedutora, drenando suas incautas vítimas enquanto estas se encontram deleitando-se em seus braços. Outras vezes, ela aparece com dentes caninos enormes, e de sua boca pende uma língua negra, e sua cabeça é ornada com uma selvagem cabeleira igualmente negra. Para prevenir-se dos ataques dela, são colocadas sementes em sua antiga casa, pois se supõe que este vampiro feminino também tenha obsessão por contar (dessa forma se esquece do ataque predador). O cadáver do Churel tinha os pés presos em cadeias, os ossos quebrados e era enterrado em decúbito dorsal, para impedir seus ataques.
Já o Gayal, o Vampiro do Punjab, assume características de Vampiro mais uma vez devido a problemas no sepultamento, por ser uma pessoa sem família para zelar por seu funeral, ou se a família por alguma razão não realizou as cerimônias. Ele é enterrado sumariamente sem ritos póstumos. O Gayal ataca seus parentes e os filhos de seus vizinhos. A destruição do Gayal é feita quando lhe fazem os ritos póstumos e lhe queima o corpo.
As pessoas se preveniam de seus ataques usando uma mistura de água do Ganges e leite, na esperança de que ele assim se saciasse.
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